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 O PROJETO 

Arpilleras é transgressão. A técnica surgiu em Isla Negra, no Chile, e era utilizada pelas mulheres como forma de subsistência. Mas os dias sombrios da repressão militar no país transformaram o bordado em uma verdadeira arma contra o governo comandado por Augusto Pinochet.  Com as roupas dos parentes desaparecidos, mulheres do subúrbio de Santiago denunciaram as diversas violações de direitos humanos cometidas contra aqueles que se colocaram contra o regime comandado por Augusto Pinochet. De trabalho invisível à ferramenta política. A partir de um afazer cotidiano, as chilenas conseguiram se transformar em protagonistas da resistência contra a ditadura.

 

Esta mesma técnica vem sendo resgatada aqui no Brasil desde 2013. Mulheres de diversas regiões utilizaram a costura para contar as violações cometidas na construção de barragens. Seguindo a força e potência dos bordados, queremos expandir ainda mais as denúncias. Para isso, contamos com a contribuição de todas e todos para a realização do documentário “Arpilleras: bordando a resistência”. Serão mulheres de todas as regiões do Brasil nos contando suas histórias e sua luta contra as violações dos direitos humanos. Uma arpillera, bordada pelas mãos destas mulheres, fará a “costura” do documentário de região para região. Compartilhe e colabore com o projeto. 

 

 As mulheres atingidas por    barragens, as arpilleras e a luta 

 

 

Segundo a última estimativa da Comissão Mundial de Barragens, realizada em 2000, no Brasil foram construídas duas mil barragens, que provocaram o despejo forçado de ao redor de 1.000.000 de pessoas, das quais 70% não teriam recebido nenhum tipo de indemnização. O próprio Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Secretaria de Direitos Humanos da República do Brasil, reconheceu no seu relatório de 2010 a existência de um padrão de implantação de barragens que provoca, de forma sistemática, a violação de 16 direitos humanos das populações atingidas, que acentua as graves desigualdades sociais e que provoca situações de miséria e desestruturação social, familiar e individual. 

Los ConquistadoresVioleta Parra (1964-65)

"Los Conquistadores"
 Violeta Parra (1964-65) 

 

O relatório também reconhece que são as mulheres que encontram maiores obstáculos para recompor os seus meios de vida, sendo as principais vítimas deste processo de empobrecimento e marginalização.

Salvador Allende  e Fidel Castro, 1970

O Movimento de Atingidos por Barragens há mais de 20 anos luta organizando as famílias atingidas, na defesa dos seus direitos, dando especial atenção à organização e participação política das mulheres, buscando pensar formas de trabalhar com as violações impostas nos processos de construção das hidrelétricas, bem como associar a esta iniciativa a construção de espaços que trabalhem a dimensão da subjetividade, tomando em conta que estas violações resultam em processos traumáticos de perda dos laços familiares e culturais.

 

Inspiradas pelas arpilleristas chilenas, as mulheres armadas com retalhos de tecido, agulha e linha, que desafiaram o silencio imposto pelo regime militar durante a Ditadura (1973-1990), as Atingidas por Barragens do Brasil iniciaram, em 2013, um processo de documentação têxtil das violações dos direitos humanos nos processos de implantação de barragens no Brasil. O resultado é a formação de uma rede de cerca de 100 testemunhos e narrativas têxtis de mais de 800 mulheres atingidas em 14 áreas de barragem espalhadas por todo território nacional.

 

 

 

 

 

As Arpilleras são uma técnica têxtil que tem suas origens numa antiga tradição popular chilena. Nos anos 60, se tornaram símbolo de resistência contra a ditadura militar de Augusto Pinochet. Violeta Parra disse uma vez  que “as arpilleras são como canções que se pintam”. São montadas em suporte de aniagem, pano rústico proveniente de sacos de farinha ou batatas, geralmente fabricados em cânhamo ou linho grosso. Esta tela de fundo, no Chile, recebe o nome de arpillera, dando nome a essa expressão artística popular.

 

Toda a costura é feita a mão, utilizando agulhas e fios, sendo às vezes adicionados fios de lã a mão ou em crochê para realçar o contorno das figuras, assim como elementos tridimensionais, como bonecas. As dimensões das arpilleras pode variar, mas a maioria segue um tamanho padrão (60X40cm), sendo este determinado pela dimensão do saco de batatas ou farinha que era usado como suporte, que cortado em seis partes, possibilitava que o mesmo número de mulheres bordasse sua própria história, a de sua família e de sua comunidade.

 

 

 

 

 

Mulher atingida

Eu sou todo o processo em construção

De identidade construída e destruída

De destruída a renovação 

 

Da dor, das perdas, da opressão, dos desvaneios

Do levante dessa mesma dor

E das lagrimas em escanteio

 

Sou parte dessa mesma moeda

Onde os dois lados tem um ser igual

E dos gritos presos na goela

Se soltam, se rasgam na realidade atual

 

 

E dos gritos que se faz soltar e rasgar

Vai junto toda minha soberania

De não mais calar e chorar

Mas de construir com graça e sabedoria o que falta do grito da ousadia.

 

       Rosa Aguiar    

     (Encontro de Mulheres Atingidas por Barragens, 26/08/2014)

 

 

 

 

Um pouco mais sobre a história das arpilleras

A particularidade desta técnica é o contexto político e social na qual foram criadas. O golpe de estado do Geral Augusto Pinochet, no dia 11 de Setembro de 1973, criou as condições necessárias para que o uso de esta arte popular pelas periferias de Santiago de Chile e comunidades rurais, dando voz às camadas oprimidas e violentadas na sociedade chilena, através das mãos das mulheres. As arpilleras eram produzidas em oficinas auspiciadas por instituições de base ligadas à igreja, que as exportava e vendia em férias solidarias na Europa e Estados Unidos, ajudando, além da sua difusão a garantir uma fonte de renda mínima para estas mulheres.

 

Com o tempo, as arpilleras têm se tornado uma das mais pungentes e estendidas manifestações visuais sobre as violações de direitos humanos, a desaparição dos seres queridos e a oposição ao autoritarismo ligados ao regime militar que governou o Chile até 1990. Desde 2008, as arpilleras chilenas têm percorrido o mundo e inspirado outras mulheres a registrar e denunciar suas experiências de violação de direitos humanos. As arpilleras produzidas pelas mulheres organizadas no Movimentos dos Atingidos por Barragens exemplificam o legado das arpilleras chilenas, que cobram vida e se transformam dando voz a outras mulheres que clamam e lutam para terem seus direitos respeitados.

 

 

 

 

 

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